sexta-feira, 12 de junho de 2009

O Princípio da Homilética

O SURGIMENTO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
A COMUNICAÇÃO FAZ PARTE DAS SOCIEDADES HUMANAS DESDE OS SEUS PRIMÓRDIOS. A PALAVRA FOI O PRIMEIRO VEICULO DE COMUNICAÇAO ANTES DO TELEX, RÁDIO,TELEVISÃO,DAS MENSAGENS VIA SATÉLITE E DA INTERNETE) E PODE SER COMPREENDIDA DE VÁRIAS MANEIRAS:SINAIS(SÍMBOLOS GESTUAIS, FALA(SÍMBOLOS SONOROS) E ESCRITA ( SIMBOLOSGRÁFICOS).OU POR MÉTODOS VISUAIS.
A VÓZ É UM PRODÍGIO DO SISTEMA NERVOSO HUMANO. POR MEIO DA VÓZ DA FALA, O HOMEM, DOTADO DE RACIOCÍNIO E INTELIGÊNCIA, PÔDE CRIAR INÚMEROS MEIOS DE COMUNICAÇÃO. É POR ESSE MEIO QUE CONSEGUE ESTABELECER DIÁLOGOS, FORMULAR PENSAMENTOS E CONDICIONAR SUAS EMOÇÕES, E TUDO ISSO RELACIONADO ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS.
O HOMEM PASSOU A VIVER E A CONVIVER EM GRUPOS, AVOZ
TORNOU-SE UM FEITO COMUNITÁRIO.
A PALAVRA POSSUI DUAS CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS:
1. FÍSICA (SOM), CHAMADA DE EXPRESSÃO ( PALAVRA QUE FAZ PARTE DE UMA LÍNGUA)
2. E A PENSATIVA, QUE RECEBE O NOME DE MACRO ( LIMITE, RELAÇÃO ENTRE TEMPO E ESPAÇO).
COM O AVANÇO DO HOMEM AO RACIOCÍNIO COMPLETO. DE SÍLABA , ELA EVOLUIU PARA FRASES, ATÉ CHEGAR Á CONSTRUÇÃO GRAMATICAL.
VER (GENESIS 2.19,20)
CONVERSA (DIÁLOGO)
(DO LATIM CONVERSATIO), OU SEJA, O DIÁLOGO ENTRE DUAS OU MAIS PESSOAS.
OS GREGOS CHAMARAM A CONVERSA DE HOMILA ( O QUE SURGIU A HOMILÉTICA). MAIS TARDE ,OS ROMANOS PASSARAM A CHAMAR DE SERMONIS( O QUE DEU ORIGEM À PALAVRA SERMÃO). OS DOIS TERMOS , GREGO E ROMANO, TÊM O MESMO SENTIDO DE COMUNICAÇÃO.
O DISCURSO EM PÚBLICO
O DISCURSO É DIRIGIDO, DE FORMA DIREITA, A
DETERMINADO GRUPO DE PESSOAS, PORÉM, O CONTATO COM O PÚBLICO PASSA A SER IMAGINÁRIO. EM UM DISCURSO, O ORADOR TRANSMITE DETRERMINADO ASSUNTO TROCANDO INFORMAÇÕES COM O PÚBLICO.
PODEMOS AFIRMAR COM CERTEZA, É QUE O DISCURSO SURGIU NO SEIO FAMILIAR, DEVIDO Á NECESSIDADE DE SE FALAR SOBRE DIVERSOS ASSUNTOS . O PAI, NESTE CASO, REPRESENTANDO UM GOVERNANTE, TINHA A NECESSIDADE DE SE DIRIGIR À FAMÍLIA ( OU SEJA, AO POVO). ENTÃO, SURGIU O DISCURSO.
RETÓRICA
OS FILÓSOFOS GREGOS FORAM OS GRANDES ESTUDANTES DO DISCURSO.FOI NA GRÉCIA QUE O HOMEM COMEÇOU A ESTUDAR OS MÉTODOS DE COMO DEVERIA SER O PRONUNCIAMENTO EM PÚBLICO.
NA DEMOCRACIA GREGA, AS PESSOAS SE REUNIAM EM LOCAIS PÚBLICOS PARA DEBATER QUESTÕES SOCIAIS, ECONÔMICAS E
POLÍTICAS . ERA A DEMOCRACIA DIRETA, NA QUAL O POVO PARTICIPAVA FIELMENTE DAS DECIÇÕES DA SOCIEDADAE.
O INDIVÍDUO QUE SOUBESSE SE EXPRESSAR COM FACILIDADE COM O POVO TERIA GRANDES PRIVILÉGIOS NA SOCIEDADE, ATRINDO PARA SI MELHORES COLOCAÇÕES NAS CIDADES.
OBS: A DEMOCRACIA SURGIU DOS GREGOS.
O DISCURSO PASSOU A SER ATRIBUIDO COMO ARTE . FOI ENTÃO QUE SURGIRAM PROFESSORES QUE DIFUNDIRAM POR TODA A GRÉCIA A ARTE DE FALAR EM PÚBLICO. TODOS PRECISAVAM APRENDER ESTE ENSINO, CASO CONTRÁRIO ERAM EXCLUIDOS DA SOCIEDADE GREGA. FOI DAÍ QUE SURGIU A RETÓRICA ( A ARTE DA ELOQUÊNCIA, FALAR BEM EM PÚBLICO, UTILIZANDO REGRAS ESPECÍFICOS . O TERMO DERIVA DA PALAVRA GREGA RETOS.)
A RETÓRICA PASSOU A SER USADA PELOS POLÍTICOS DE FORMA DEMAGÓGICA ( NO GREGO, O TERMO DEMAGOGO SIGNIFICA “GUIA DO POVO”: demos, POVO +ÁGO,CONDUZIR). A RETÓRICA ESTAVA DIVIDIDA EM TRÊS CORRENTES IDEOLÓGICAS: POLÍTICA, FORENSEE EPIDÍCTICA(OSTENTOSA).
OS ROMANOS E SUA ORATÓRIA
COM A QUEDSA DO IMPÉRIO GREGO, SURGIU O IMPÉRIO ROMANO. OS ROMANOS ERAM GRANDES ADMIRADORES DA CULTURA GREGA E, POR ISSO, ENGLOBARAM EM SUA SOCIEDADE MUITOS ENSINOS GREGOS. UM DESSES ENSINOS FOI A RETÓRICA QUE , MAIS TARDE , PASSOU A SER CHAMADA DE ORATÓRIA, DO LATIM ORIS, QUE SIGNIFICA “BOCA”.
HOMILÉTICA CRISTÃ
AS PRIMEIRAS RELIGIÕES NÃO POSSUIAM UMA HOMILÉTICA CAPAZ DE ATRAIR NOVOS ADEPTOS. AS CRENÇAS PAGÃS GERALMENTE, TINHAM ATRIBUIÇÕES LOCAIS REGIONAIS E NACIONAIS. NO JUDAÍMOS POR EXEMPLO. OS PAIS PASSAVAM A TRADIÇÃO DA RELIGIÃO PARA OS FILHOS.
AO CRISTIANISMO, DEUS INCUBIU O APELO UNIVERSAL DE PROPAGAR O EVANGELHO A TODAS AS NAÇÕES, SURGINDO ASSIM, A RETÓRICA SACRA E A ORATÓRIA SACRA QUE , A PARTIR DO SÉCULO XVII, RECEBERAM O NOME DE HOMILÉTICA ( A ARTE DE PREGAR SERMÕES).
JESUS CRISTO FOI O HOMEN QUE COMEÇOU A ESTRUTURAR A HOMILÉTICA. SEM DÚVIDA, NINGUÉM SOUBE FALAR DE FORMA TÃO SIMPLES E TÃO PROFUNDA COMO O MESSIAS (MT 13.54,MC 6.2,LC 4.16-23).
LIVRO DE MATEUS 13.54 Diz: E, CHEGANDO À SUA PÁTRIA, ENSINAVA-OS NA SINAGOGA DELES, DE SORTE QUE SE MARAVILHAVAM E DIZIAM:
DONDE VEIO A ESTE A SABEDORIA E ESTAS MARAVILHAS?
JESUS CRISTO LANÇAVA MÃO DOS COSTUMES DA VIDA DIÁRIA PARA PODER LEVAR O HOMEM A DEUS. OU SEJA , USAVA AS PARABOLAS( (NARRAÇÃO ALEGÓRICAS NA QUAL O CONJUNTO DE ELEMENTOS EVOCA OUTRA REALIDADAE DE ORDEM SUPERIOR).
DEPOIS DE JESUS CRISTO, OS DISCÍPULOS COMEÇARAM A ESTRUTURAR AS MENSAGENS DE SALVAÇÃO. ELES NARRAVAM OS TRECHOS BÍLBICOS QUE ENFATIZAVAM A VIDA DE JESUS CRISTO. DESSA FORMA, PROVAVAM, DE FATO, QUE ELE ERA O MESSIAS PROFETIZADO PELOS PROFETAS DO ANTIGO TESTAMENTO (ATOS 2.1-47; 7.1-53; 13.16-48,DENTRE OUTROS).
OS PREGADORES CRISTÃOS APERFEIÇOARAM A RETÓRICA E A ORATÓRIA, SURGINDO ENTÃO, A HOMILÉTICA
QUANDO DIZEMOS QUE A HOMILÉTICA E A ARTE DE PREGAR EM PÚBLICO, NÃO QUEREMOS DIZER QUE O PREGADOR SEJA UM ARTISTA. ANTES,ATRIBUIMOS AO PREGADOR O USO DA TÉCNICA DE COMO SE EXPRESSAR BEM EM PÚBLICO. A HOMILÉTICA NA PREGAÇÃO, NA PALESTRA E NO DISCURSO TEM UMA ÚNICA FUNÇÃO: LEVAR O OUVINTE A CONCORDAR COM AQUILO QUE O ORADOR ESTÁ DIZENDO.
DEPOISD DA REFORMA PROTESTANTE, A HOMILÉTICA PASSOU A SER USADA DE FORMA GENUÍNA, DANDO CONDIÇÕES AO ORADOR DE CUMPRIR SUA MISSÃO DE ANUNCIAR O EVANGELHO COM EFICÁCIA.
O PREGADOR JAMAIS PODE SE ESQUECER DE QUE A FUNÇÃO PRIMORDIAL DA HOMILÉTICA E ANUNCIAR AS BOAS NOVAS DE SALVAÇÃO, POR INTERMÉDIO DE JESUS CRISTO. O PRINCIPAL INTUITO DA HOMILÉTICA É FACILITAR O CAMINHO PARA QUE A MENSAGEM DA CRUZ SEJA ACEITA PELOS OUVINTES.QUANDO ISTO NÃO ACONTECE, O PREGADOR ESTÁ CAUSANDO UM DESVIO DE FUNÇÃO.PORQUE A HOMILÉTICA FOI CRIADA PARA AJUDAR OS PREGADORES NA EVANGELIZAÇÃO E NO ENSINAMENTO DA VERDADE REVELADA POR DEUS.
RESUMO:
RETÓRICA ORATÓRIA E A HOMILÉTICA SIGNIFICA: A ARTE DE PREGAR SERMÕES
ELOQUENCIA= FALAR BEM
ANUNCIAR COM EFICÁCIA= FAZER A COISA CERTA

“Persuasão homilética na Idade Mídia. A pregação contemporânea e os meios de comunicação de massa”

Resumo
Este pequeno ensaio considera a prática homilética em sua inter-relação com o fenômeno dos meios de comunicação de massa, particularmente a televisão. Nossa opinião é a de que se, por um lado, a programação televisiva encontrou forte inspiração na prática homilética religiosa, atualmente a experiência da pregação nas igrejas busca nos meios de comunicação o seu modus operandi (método), o seu modus faciendi (técnica), e o seu próprio modus vivendi (estilo de vida). O artigo aborda conceitos gerais que poderão ajudar na compreensão do fenômeno homilético contemporâneo em suas inter-relações com a sociedade do espetáculo e a indústria do entretenimento.

Palavras-chave
homilética – pregação – persuasão – retórica – mídia – TV – entretenimento – espetáculo.

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Introdução
Avanços tecnológicos na área da comunicação e discurso homilético (entendido aqui como sinônimo de prédica e homilia, sermão) sempre andaram de braços dados. Para mencionarmos apenas algumas aproximações, citemos: os experimentos acústicos da pregação ao ar livre dos profetas veterotestamentários, do próprio Jesus de Nazaré e de tantos pregadores evangelistas; a prática editorial abundante e crescente desde a invenção da imprensa; as iniciativas radiofônicas e televisivas dos pregadores eletrônicos; a disseminação dos sites religiosos pela rede mundial de computadores; isso para deixarmos de lado os “disque-oração” e outros serviços de marketing direto de propagação de idéias e ideologias religiosas.
Neste pequeno ensaio, pretendemos considerar a prática homilética em sua inter-relação com o fenômeno dos meios de comunicação de massa, particularmente a televisão. Nossa opinião é a de que se, por um lado, a programação televisiva encontrou forte inspiração na prática homilética religiosa, atualmente a experiência da pregação nas igrejas busca nos meios de comunicação o modus operandi (método), o modus faciendi (técnica), e o seu próprio modus vivendi (estilo de vida).
Para compreendermos melhor o fenômeno homilético, é importante que o consideremos à luz de alguma teoria que dê conta de explicar o que acontece no campo da informação nos últimos cinqüenta anos. Nesta abordagem, recorrerei à tese do filósofo, agitador social, diretor de cinema, Guy Debord, que cunhou a expressão “sociedade do espetáculo” (1967). Outra referência importante, no âmbito da comunicação, é o conceito de “república do entretenimento” – conceito este que foi abordado de modo particularmente interessante, por Neal Gabler, no livro Vida, o Filme: como o Entretenimento conquistou a Realidade. Outro pressuposto importante, ainda no campo da comunicação, é a constatação de que a comunicação televisiva se dá principalmente pela via emocional não consciente, para a qual o que importa não é a persuasão, mas a sedução. Neste particular, nos apoiaremos nos conceitos do teórico da comunicação espanhol, Joan Ferrés, que trata em seus escritos do “império das emoções”.
No campo da homilética, recorreremos aos conceitos retóricos clássicos de Aristóteles (“retórica antiga”), mas analisados à luz do semiólogo francês Roland Barthes (m. 1980) e do filósofo do direito, Chaïm Parelmann (“nova retórica”).
Abordaremos, aqui, conceitos gerais que poderão nos ajudar na compreensão do fenômeno homilético contemporâneo em suas inter-relações com mídia.

A mídia homilética e a homilética da mídia
Nos últimos anos, vimos as telas dos aparelhos de TV se revestirem da aura religiosa com a proliferação dos programas religiosos que vão desde a transmissão de cultos e missas inteiros, passando pela catequese via satélite, até a realização de milagres e exorcismos virtuais.
A TV ascendeu à categoria divina ao assumir sobre si atributos que antes eram reservados a Deus: onipresença, onisciência e onipotência. A onipresença da TV é evidente, dos barracos na favela às mansões em Alpha Ville, como diriam os rapers. Sua onisciência é notória por tratar de todo tipo de assunto, e por ser a fonte da informação necessária e praticamente exclusiva da vida contemporânea. Sua onipotência se constata pela força irresistível com que age sobre seus telespectadores, transformando-os todos, sem exceção, em consumidores ávidos e contumazes.
Muito de tudo o que faz e apresenta, a indústria da comunicação aprendeu da prática religiosa. A religião, desde muito cedo, rendeu-se diante do “triunfo dos sentidos sobre a mente, da emoção sobre a razão, do caos sobre a ordem, do id sobre o superego, do abandono dionisíaco sobre a harmonia apolínea” (N. GABLER, p. 28). Ao depor o racional e entronizar o sensacional, ao desconsiderar a minoria intelectual e entronizar a maioria sem requinte, a religião (ou pelo menos certo segmento religioso), desde os tempos de Platão, lançava as bases para a moderna indústria do entretenimento.




Conteúdo, forma e canal
A inspiração mídia/religião é mútua e os princípios homiléticos que pautam a prática religiosa se refletem na concepção comunicativa dos meios seculares. Da mesma forma que a experiência midiática produz eco na religiosa.
Isto se dá tanto em termos do conteúdo, quanto da forma, próprios do respectivo meio comunicacional. Quanto ao conteúdo, há que se levar em conta que, para os meios de comunicação de massa, particularmente a TV, a matéria veiculada deve ter, necessariamente, um caráter simplista e simplificador (i.e., de fácil assimilação), superficial, emotiva, apoiada no princípio da transferência de valores, do fascínio das estrelas, e do narcisismo, entre outros. Quanto mais visual, maior será a chance de certo conteúdo ser veiculado no meio televisivo. Daí a impossibilidade de, neste caso, separar-se forma e conteúdo. A forma privilegiada pelos MCM é a audiovisual e a sua técnica preferida e a da sedução pelo relato. “A televisão agrada fundamentalmente porque conta histórias” (J. FERRÉS, p. 91), assim como certos sermões. A televisão é a um só tempo parque de diversões e centro comercial (shopping center). Ela atrai pessoas, por meio do entretenimento e do espetáculo, para transformá-las em consumidores. O conteúdo veiculado é, em última instância, mercadoria. As informações não têm como objetivo último informar, mas vender produtos. Os programas de entretenimento não querem divertir, mas vender (por acaso até podem informar). Quando a religião se serve desse canal de comunicação, ela não tem outra escolha, a não ser render-se às exigências próprias do meio. Sua mensagem converte-se, necessariamente, em mercadoria, e a experiência de Deus, ou da fé, é colocada lado a lado com outros produtos do mercado. Há, atualmente, uma indústria milionária e competitiva que se empenha para atender a uma demanda sem precedentes, e que aquece o mercado dos bens religiosos.

Persuasão versus sedução
Retomando os princípios retóricos aristotélicos, gostaríamos de considerar a prática homilética contemporânea em sua relação com a mídia, tentando identificar diferenças e semelhanças e possíveis deslocamentos de foco.
Para Aristóteles, o discurso retórico (que serve de base para a retórica sagrada, até nossos dias) se desenvolve partindo de dois grandes caminhos: um lógico ou pseudológico e outro psicológico. No primeiro, chamado “probatio”, o orador ocupa-se das provas e do seu domínio sobre elas, mediante o raciocínio – indutivo e dedutivo. No segundo, o psicológico, a ênfase recai sobre o estado de humor de quem deve receber a mensagem. As provas, neste caso, são de ordem subjetiva. Tudo é dito de forma a atingir o receptor em seus sentimentos e comovê-lo (BARTHES, A Retórica Antiga, p. 184).
Interessa-nos, particularmente nesta análise, o caminho psicológico, uma vez que essa foi a grande descoberta da televisão e da publicidade: o que realmente move as pessoas é a emoção, a sensação e o inconsciente, derrubando o mito da consciência e da razão.
Quando Aristóteles abordava o tema dos tipos de discurso e de suas partes constitutivas, ele não estava sugerindo como eles deveriam ser, mas estava constatando como eles de fato se apresentavam nas suas várias manifestações e como são compostas as suas estruturas discursivas. Igualmente, aqui não estamos dizendo como deveria ou como não deveria ser a prática homilética e a midiática, mas tentamos simplesmente descrever-lhe os processos.
Voltando a Aristóteles, os argumentos são de dois tipos: os lógicos (que visam a demonstrar) e os psicológicos (que visam a convencer). Os argumentos psicológicos, que visam a comover e a emocionar – chamados argumentos sensibilizadores –, por sua vez, podem ser classificados em argumentos éticos e patéticos.
Por um lado, os argumentos éticos estão centrados na figura do emissor e podem ser agrupados em três grandes classes de conteúdos: bom senso; bom caráter; boas intenções – visando a estabelecer uma vinculação afetiva entre o orador e o receptor.
Por outro lado, os argumentos patéticos consistem em apelos emocionais visando atingir o receptor em seus sentimentos, princípios e crenças. Estes argumentos podem ser agrupados em duas grandes tríades persuasivas:
Deus Jogo
Pátria Violência
Família Sexo
Segundo Aristóteles, os argumentos que envolvem esses aspectos são os mais persuasivos, os mais convincentes.
Gostaria de chamar a atenção para o fato de que a primeira tríade, psicanaliticamente falando, tem caráter mais repressor. Os argumentos que se utilizam de idéias tais como “Deus não gosta”, “honra a terra que te deu à luz” e “vou contar pro teu pai” soam como manifestação do superego, refreando os ímpetos do interlocutor.
Por outro lado, os da segunda tríade são instigadores, positivos, como o id que impulsiona o indivíduo a aderir a uma idéia ou prática. A sedução do jogo/entretenimento é inegável, considerado o princípio do prazer – a busca pelo bem estar, quer seja do corpo, quer seja do espírito; o fascínio da violência pode ser observado desde os espetáculos do circo romano, no qual a diversão era ver gladiadores se decapitando ou sendo devorados por feras, passando pelas atuais touradas e concorridas lutas de Box, até as horripilantes e macabras sessões de exorcismo transmitidas via satélite para os aparelhos de TV do mundo todo. Por último, a sedução quase irresistível do sexo. O erotismo sempre foi considerado outra garantia de sucesso nas bilheterias dos cinemas e nas páginas impressas. E por que seria diferente na religião midiática? Estrelas e astros carismáticos são a versão religiosa dos símbolos sexuais seculares que, com suas vozes sedutoras e imagens cuidadosamente produzidas, levam a audiência ao êxtase, ao clímax de uma relação espiritual muito corpórea (choro, arrepios, estremecimentos, interjeições e gritos de prazer...).
Esta análise poderia se estender para outros pequenos, mas não menos importantes, detalhes, mas basta-nos, no momento, notar que ambas as tríades fazem parte tanto do discurso homilético quanto do discurso dos meios de comunicação. Entretanto, até há pouco tempo, era possível afirmarmos que a religião centrava seu discurso muito mais na primeira tríade (Deus, Pátria, Família) e a Mídia, na segunda (Jogo, Violência, Sexo). Hoje podemos notar uma clara migração, por parte da religião, da primeira para a segunda tríade. Esta pode ser a mais notória influência que a era da informação vem exercendo sobre a prática religiosa contemporânea.
A antiga e ingênua classificação dos sermões, em Tópicos, Textuais e Expositivos, teria que dar lugar a outra mais adequada ao contexto contemporâneo. Sugerimos que tal classificação se dê com base na maneira pela qual as fitas de vídeo são arranjadas nas vídeo-locadoras. Assim, teríamos sermões Comédia, Drama, Suspense, Ação, Terror, eventualmente um sermão Cult, etc., todos disponíveis nas suas respectivas prateleiras virtuais, ao alcance da ponta dos dedos. E, caso a programação se torne demasiado entediante, é só dar um click no controle remoto e mudar de Deus.

Considerações finais
Retomando algumas considerações levantadas no artigo “Os fins justificam a mídia” (Revista Caminhando, 2002) sobre o uso dos meios no processo pedagógico eclesiástico, tornamos a levantar a questão do temor da força desumanizadora, robotizadora, coisificadora dos meios tecnológicos, principalmente os de comunicação de massa — contexto esse no qual se dá parte significativa da prática homilética contemporânea.
Seria possível um processo em caminho inverso, ou seja, a reversão humanizadora de uma tendência que pende para a coisificação? A nosso ver, a humanização da homilética mediada passa:
• Pelo enfrentamento das “megamudanças” que ocorrem no campo teórico e tecnológico contemporâneo, abertura para aceitá-las e, até mesmo, para promovê-las — o que implica numa homilética multimídia.
• Pela sensibilização de todo o corpo humano: tato, olfato, paladar, audição e visão (na prática litúrgico-homilética seria possível uma experiência semelhante à do “bodynet”, um computador que pode ser vestido, como uma roupa, para ser usado por todo o corpo) — uma homilética sensível ou polisensorial, para ser celebrada na liturgia do corpo.
• Pela consideração e respeito para com a emoção e o sentimento humanos (o espírito humano ri ou chora, fica feliz ou infeliz, se irrita ou se compadece, despreza ou ama, rejeita ou se enternece…) — uma homilética afetiva.
• Pela superação das redes de máquinas (de computadores, de TVs, de emissoras de rádio...) por uma rede de gente, pois não interessa haver máquinas conectadas se não houver interação entre as pessoas que utilizam essas máquinas, isto é, a constituição, ainda que virtual, de uma comunidade real —uma homilética comunal.
• Pela dominação das máquinas pelas pessoas e não das pessoas pelas máquinas (a maneira de dom[in]ar as máquinas é aprender a usá-las — alfabetização digital) — uma homilética humanizada e humanizante.
• Pela abertura às amplas possibilidades e estilos intelectuais (cf. Pascal, o espírito humano tem “*razões* [note o emprego do plural] que a própria razão desconhece”) — uma homilética multi-inteligente.
• Pelo desenvolvimento de uma inteligência coletiva (os resultados da inteligência humana devem ser socializados para beneficiar a todos, bem como os problemas podem ser resolvidos coletivamente, com várias cabeças pensando a respeito – vd. exemplo do Projeto Genoma) — uma homilética co-inteligente.
• Pela convicção de que a tarefa homilética, como a comunicativa, não se dá no isolamento e que só é viável se realizada coletivamente na interrelação, na multi-relação e mesmo na trans-relação entre saberes, competências e experiências tanto cognitivas como vitais — uma homilética inter-multi-transdisciplinar.
• Pela interação de todas as pessoas envolvidas como sujeitos ativos que podem opinar e interferir diretamente no curso do processo comunicativo (tal interação deve ser possível entre as pessoas e os meios e entre elas mesmas) — não se trata mais de emissores e receptores de mensagens, mas de intersujeitos comunicantes — uma homilética interativa.
Outras expressões e possibilidades de humanização da homilética mediada podem e devem ser acrescentadas a essa lista, a partir da experiência própria da leitora, do leitor e de todas as pessoas envolvidas na tarefa litúrgico-homilético-comunicativa. Afinal, a homilética é uma incomum celebração discursiva das relações vitais comuns.

Bibliografia
ARISTÓTELES. Retórica das Paixões. São Paulo: Martins Fontes, 2000, 73 p.
BARTHES, Roland. A Aventura Semiológica. São Paulo: Martins Fontes, 2001, 339 p.
CARVALHO, Dirce de. Homilia: A Questão da Linguagem na Comunicação oral. São Paulo: Paulinas, 452 p.
DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997, 237 p.
FERRÉS, Joan. Televisão Subliminar: Socializando através de Comunicações Despercebidas. Porto Alegre: Artmed, 1998, 288 p.
GABLER, Neal. Vida o Filme: como o Entretenimento conquistou a Realidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, 293 p.
PERELMAN, Chaïm. Retóricas. São Paulo: Martins Fontes, 1999, 417 p.
RAMOS, Luiz Carlos. Os fins justificam a mídia: em busca de uma comunicação integral para a Escola Dominical. Caminhando. Ano VII, n. 9, 1o. semestre 2002. São Paulo: Editeo, p. 110-123

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