E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui
o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que
venceu, para abrir o livro e desatar os seus
sete selos” (Ap 5.5).
O emprego desse título, pelos membros da tribo
da qual Jesus descendeu, era metafórico. A
figura do leão decorava o emblema do estandarte
que representava a tribo de Judá, tanto em
viagens quanto em incursões militares.
Em todas as épocas (e também nos dias atuais), o
leão representa a força e o poder que, nos
tempos antigos, eram atribuídos, ou pelo menos
desejados, pelas linhagens reais e guerreiras.
A esperança judaica, neste aspecto, não era
diferente, porque o Messias que os judeus
esperavam viria, segundo sua carnal compreensão,
na pessoa de um grande guerreiro, de um grande
monarca que, ao derrotar todos os inimigos de
Israel, daria completa libertação ao povo.
Não é provável que a tribo possuísse um animal
desse porte como um bichinho de estimação, uma
vez que a força do leão e a ameaça que
representa o tornam um perigo para todos.
O próprio Deus, pela palavra de seu profeta,
assemelha-se a um leão, manifestando, dessa
maneira, o tamanho do seu poder, para que o
homem pudesse mensurar (Os 5.14). Em Apocalipse
5.5, esta metáfora, agora em referência a
Cristo, é novamente destacada, quando da ocasião
em que o ancião descrevia a visão a João, na
ilha de Patmos.
O texto apocalíptico surge como um fragmento
correlato de Gênesis 49.9, empregado pelo autor
inspirado, Moisés, para enumerar as
características de cada uma das doze tribos de
Israel. E, ao manifestar-se a respeito da tribo
de Judá, diz tratar-se de um “leãozinho que
subsiste da presa”; isto é, daquele cuja
presença e ação os inimigos não podem escapar.
Ana teve sete ou seis filhos?
Os fartos se alugaram por pão, e cessaram os
famintos; até a estéril deu à luz sete filhos, e
a que tinha muitos filhos enfraqueceu” (1Sm
2.5).
Visitou, pois, o SENHOR a Ana, que concebeu, e
deu à luz três filhos e duas filhas; e o jovem
Samuel crescia diante do SENHOR” (1Sm 2.21).
Ana, em seu cântico, procedido segundo o costume
das mulheres judias que alcançavam ventre
frutífero, quando diz que teve sete filhos, não
se refere à prole que ainda estava por gerar,
mas, sim, ao número que representa a totalidade
e a perfeição de Deus.
É interessante notar que não há qualquer
profecia anterior a este cântico relacionada ao
número de filhos que Ana teria. Logo, Ana não
poderia adivinhar a quantidade exata de sua
prole. Por isso, como já foi dito, menciona um
número de extrema representatividade na cultura
hebréia.
Ana inicia seu período maternal com a concepção
de Samuel (1Sm 1.9-20). Depois, concebe mais
três filhos e duas filhas (1Sm 2.20,21).
Fora de qualquer comparação mística, temos na
numerologia judaica uma série de correlações
entre números e acontecimentos, como, por
exemplo, o número “3”, que não era simbólico,
mas, às vezes, era repetido em uma frase que
alguém desejava que fosse conhecida como
verdade.
O número “4” dava a característica do que era
completo. Vejamos: “quatro” letras constituíam o
nome de Deus (YHWH), “quatro” braços do rio Éden
(Gn 2.10), “quatro” reinos mundiais (Ez 37.9).
O número “7” relacionava-se efetivamente ao
sagrado. Podemos ver isso em vários exemplos,
como quando Cristo orienta Pedro sobre quantas
vezes ele deveria perdoar os pecados de seu
irmão contra si, ou seja, “setenta vezes sete”
(Mt 18.22), que seria o mesmo que
“completamente”.
Se a narrativa do rico e Lázaro não é uma
parábola, mas história real, como os evangélicos
defendem, gostaria, então, de saber como o rico
pôde sentir sede, tendo em vista o fato de que
ele, naquele lugar, não estava em matéria, mas
em alma e espírito?
E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia
de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a
ponta do seu dedo e me refresque a língua,
porque estou atormentado nesta chama” (Lc 16.24)
Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que
nem todas as correntes atestam que esta parábola
é uma história verídica, narrada por Jesus em
conseqüência de seus atributos sobrenaturais.
Por outro lado, ainda que assim se defina o
enredo anotado em Lucas 16.19-31, não devemos,
da mesma forma, ignorar que a linguagem
neotestamentária se acha repleta de simbolismos,
usados por Deus para mostrar, de forma
compreensível, as expectativas para o homem no
mundo post-mortem.
Assim, a descrição do desejo arrogante do rico,
que pleiteava de Abraão que determinasse a
Lázaro que lhe refrescasse os lábios com um
pouco de água, parece nos esclarecer os reais
tormentos que aguardam os homens no hades,
conforme é chamado o lugar de tormento para
todos aqueles que rejeitaram o nome de Jesus
para que fossem salvos.
Tal questionamento, no entanto, é compreensível,
visto que, efetivamente, um corpo material não
carece de alimento, água, descanso ou de
qualquer outro suprimento que, normalmente,
necessitaríamos para que pudéssemos transpor a
nossa existência na terra. Todavia, é importante
que saibamos distinguir quais as regras de
interpretação aplicáveis a cada contexto das
Escrituras.
Para este caso, o que ocorre é uma metáfora do
sofrimento que se dá no outro plano. Tal
tormento é tão insuportável, que seria o mesmo
que sermos submetidos às brasas de uma pira
incandescente ou trancafiados no interior de um
forno de panificação em plena atividade.
Essa figura de linguagem aparece nos discursos
cristãos sempre que o Mestre se referia aos
danos sofridos pelas almas no inferno (Mc
9.44,46,48).
Há um episódio estranhíssimo na Bíblia, sem
paralelo nos demais textos: a luta entre Jacó e
o anjo (Gn 32.24-32). Segundo a Palavra, os
anjos possuem poder, mas em relação ao anjo com
o qual Jacó lutou, pareceu haver quase uma
equivalência de forças, visto que Jacó pôde
resisti-lo durante muito tempo. Mais do que
isso, Jacó o deteve (o segurou) e, segundo meu
entendimento, até o coagiu a abençoá-lo. Em
minha igreja, os irmãos cantam esse episódio,
mas sem raciocinarem a respeito. Gostaria que
fizessem uma exegese do mesmo, se possível com
referências de pensadores cristãos e judeus.
É realmente complexo dirimir esta questão em
poucas palavras. Algumas posições expostas até
aqui têm sua razoabilidade, como, por exemplo, a
que afirma o seguinte: embora Jacó tenha ficado
enfraquecido por ter sido tocado no nervo da
coxa, ele se agarrou de tal forma em seu
opositor que o anjo, para não lhe ferir mais do
que havia ferido, se permitiu ficar detido.
Já no aspecto físico da “luta” em referência,
temos que o pedido do anjo — “Deixa-me ir” — foi
um reconhecimento do sucesso de Jacó, conforme
lemos nos versículos 25 e 28. Ou seja, o anjo
teve de ferir Jacó para se desvencilhar dele e,
em seguida, trocou o seu nome para Israel.
Como se observa em todo o restante do contexto
bíblico, a intenção de Jacó, quando empreendeu
aquele ato, não era outra senão ser abençoado e,
provavelmente por isso, sua vida fora poupada.
Deus, obviamente, poderia ter fulminado Jacó sem
misericórdia, mas a insistência do hebreu
revelava seu interesse na ação divina e na
salvação.
Ao requerer a bênção, Jacó, em verdade, atua
como um vencedor diante daquele embate insólito,
não deixando, porém, de reconhecer o caráter
divino e sobrenatural do ser que se encontrava
em sua presença. Por isso, pede: “Abençoa-me”. E
fora miraculosa a forma como o anjo, apenas por
tocar em Jacó, o deixou aleijado.
Uma lição que Deus provavelmente quis ensinar a
Jacó seria aquela que destaca as limitações dos
homens em relação a Deus, o que, até então, Jacó
não havia compreendido.
Por último, resta, ainda, o pensamento que
mostra Jacó diante de uma circunstância que
predizia sua condição sobre as coisas
espirituais, ou seja, que ele granjearia vitória
nesta parte, desde que aprendesse a se submeter
e a orar. E esse último aspecto ficou
demonstrado na cena final do episódio, quando
Jacó brada, dizendo: “Tenho visto a Deus face a
face, e a minha alma foi salva”, o que significa
que Jacó agradeceu por ter sobrevivido a tal
embate, por não ter perecido de morte.
Preparado por Marcos Heraldo Paiva
Participantes desta edição:
Waldir Sabino
Juliano B. Dantas
Divalcir da Silva
Daniel Soares Meuer
Rodolfo Nascimento
Fonte:ICP
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