sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Existiu Uma Raça Pré-Adâmica?

O livro “Rastros do Oculto”, de

Daniel Mastral, contém algumas

reflexões sobre a Criação. De início,

o autor declara que “este estudo é

somente uma possibilidade” e que não

se trata de “nenhuma doutrina

estabelecida”. Não li o referido

livro. Um leitor me enviou o texto

citado e solicitou minhas

considerações. Vejamos os pontos

principais:

1 – “É muito provável que Deus tenha

criado “vários homens e várias

mulheres”, pois conforme o texto

acima, descobrimos que Adão não é um

nome próprio, mas um termo que

designa a Raça Humana. Antes de

Gênesis 5, não é citado o termo Adão,

mas sempre do “homem” e da “mulher”,

até mesmo dando a impressão impessoal

que o texto aparentemente cria...

quer dizer, poderia ser “qualquer

homem” ou “qualquer mulher”. Talvez

isso queria dizer que no Jardim –

antes do pecado original – não

existisse apenas um casal. (Obs.:

Leia Atos 17.26)”

2 – “Em Gn 2.1 ainda há uma

referência à Criação, no sétimo dia

em que Deus descansou: “Assim, pois,

foram acabados os céus, a terra e

todo o seu exército”: de plantas, de

árvores, de animais e, assim creio,

também de seres humanos (não podemos

inferir que o exército a que Deus se

refere seja o de anjos, porque,

primeiro, os anjos já tinham sido

criados, aos milhões, muito antes;

segundo, porque todo o contexto se

relaciona à Criação da Terra e da

Raça Humana)”.

3 – “Outro detalhe: Depois de

expulsos do Jardim, quando Caim matou

seu irmão e tornou-se fugitivo pela

terra depois de receber uma “marca”

de Deus, ele temia que “quem o

encontrasse o mataria”; mas Deus

disse que ele não seria ferido de

morte por quem quer que o

encontrasse, visto haver nele uma

marca. Quem o matasse seria vingado

sete vezes. Isso demonstra que havia

mais pessoas vivendo na Terra e não

somente a família de Adão, Eva, Caim,

Abel”.

Análise
Ainda bem que o autor inicia seu

pensamento declarando que não está

criando nenhuma doutrina nova. Ele

tem todo o direito de divagar,

meditar, conjeturar, presumir. O

autor diz tratar-se de uma

possibilidade, mas não desmente –

ainda bem - o ato da Criação e não

descamba para o evolucionismo.

Todavia, seus pensamentos poderão

criar dúvidas em leitores menos

atentos. Daí porque cabe à Igreja

prestar os devidos esclarecimentos.

Analisemos, pois.

Adão não é um nome próprio
Adão, hebraico, Adam, significa

homem, ser humano, solo arável e

vermelho. Há quem traduza como “homem

vermelho”, certamente por causa de

sua formação do barro. Ainda que Deus

não tenha dito formalmente que iria

fazer um homem chamado Adão, este

nome é designativo de nome próprio em

outras passagens. Deus trouxe os

animais a Adão (Gn 2.19); o Senhor

fez com que Adão ficasse adormecido

(v. 21); Adão recebeu com alegria a

mulher que lhe fora apresentada, e

deu-lhe o nome de Eva (2.23); o

Apóstolo cita dois nomes próprios ao

dizer que “a morte reinou desde Adão

até Moisés” (Rm 5.14), e declara, sem

rodeios, que o primeiro homem a ser

criado foi Adão, isto é, chamou-se

Adão (1 Co 15.45; 1 Tm 2.13). Logo,

Adão não pode ser um termo genérico

designativo da raça humana. Poderia o

Apóstolo ter dito “a morte reinou

desde a raça humana até Moisés?”.

Antes do pecado original não existia

apenas um casal no Éden
Se existiam muitas famílias no Éden

antes da desobediência de Adão e Eva,

por que não continuariam existindo

depois da queda? Teriam virado anjos?

Foram exterminadas? O autor apresenta

Atos 17.26 certamente numa das

versões que diz: “De um só [Deus] fez

toda a geração dos homens para

habitar sobre toda a face da

terra...”. À vista disso, Deus teria

criado de uma vez toda a geração dos

homens, milhares de casais, cada

homem com sua respectiva companheira.

Ocorre que a versão Corrigida FIEL

(Trinitariana), assim registra Atos

17.26: “E de um só sangue [de um só

ou por um só homem] fez toda a

geração dos homens...”. Foi um

descuido lamentável, não do Criador,

mas do senhor Mastral.

Todo o exército foi criado de uma só

vez
O autor usa Gênesis 2.1 como prova de

que Deus criou uma multidão: “Assim,

os céus, e a terra, e todo o seu

exército foram acabados”. E explica:

“Assim, pois, foram acabados os céus,

a terra e todo o seu exército”: de

plantas, de árvores, de animais e,

assim creio, também de seres humanos

(não podemos inferir que o exército a

que Deus se refere seja o de anjos,

porque, primeiro, os anjos já tinham

sido criados, aos milhões, muito

antes; segundo, porque todo o

contexto se relaciona à Criação da

Terra e da Raça Humana)”.

Primeiro, a raça humana não se insere

no contexto sob comentário. O

“exército” concluído e acabado

compreende luz, águas, terra, ervas,

astros e animais. Depois, Deus

“formou o homem do pó da terra” que

já havia sido criada. Não foi tudo

criado juntamente, de uma só emissão.

O autor confundiu-se em suas

meditações porque entendeu que a

palavra “exército”, de Gênesis 2.1,

incluísse a raça humana. Inadmissível

tal possibilidade. A Palavra está

fazendo referência ao que fora criado

até aquele momento. Observem:

“Outro significado da expressão

“exército do céu” (e similares) diz

respeito às “estrelas inumeráveis”:

“Como não se pode contar o exército

dos céus, nem medir-se a areia do

mar, assim multiplicarei a

descendência de Davi, meu servo, e os

levitas que ministram diante de mim”

(Jr 33.22). Esta expressão abrange

todos os corpos celestes, como ocorre

em Salmos 33.6: “Pela palavra do

SENHOR foram feitos os céus; e todo o

exército deles, pelo espírito da sua

boca”. Em Gênesis 2.1, tsãbã

compreende os céus, a terra e tudo na

Criação: “Assim, os céus, e a terra,

e todo o seu exército foram acabados”

(Dic. VINE, p. 122).

Caim tornou-se fugitivo
Caim se levantou contra seu irmão

Abel e o matou (Gn 4.8). Mas Deus

colocou um sinal em Caim para que

ninguém o ferisse por causa disso

(v.15). Quem mataria Caim, se somente

ele e os pais existiam? Assim, Daniel

Mastral acha possível a existência de

mais pessoas naquele período.

A família de Adão, que morreu aos

novecentos e trinta anos, não se

restringiu a Caim e Abel. A

genealogia deste capítulo enumera a

geração a partir de Sete, nascido

quando Adão tinha apenas cento e

trinta anos. Depois disso, Adão gerou

“filhos e filhas” em número não

revelado (5.4). Portanto, durante

oitocentos anos o casal Adão e Eva

gerou muitos filhos, homens e

mulheres. Desse modo, um irmão ou

sobrinho poderia tirar a vida de

Caim, castigo do qual ele próprio se

julgava merecedor (4.14). Quando

ocorreu o fratricídio, Abel e Caim

eram adultos; o primeiro pastor de

ovelhas; o segundo, agricultor (4.2).

Na suposição de que esses irmãos

tivessem em torno de vinte anos de

idade, é possível admitir que não

existissem naquela época apenas Adão,

Eva, Abel e Caim.

Daí porque consideramos que “não há

necessidade de supor a existência de

alguma raça pré-adâmica aqui. As

palavras de Caim – `serei fugitivo e

errante na terra, e será que todo

aquele que me achar me matará´ - são

suficientemente explicadas ou pela

ira vindicativa de seus irmãos mais

jovens, de quem ele com justiça

poderia ficar temeroso, ou pela sua

própria imaginação aterrorizada” (O

Novo Comentário da Bíblia, vol. I, p.

88).

Criar multidões de uma só vez seria

criar necessidades imensas para um

povo sem condições de atender suas

necessidades básicas. Com sabedoria,

Deus criou apenas um homem e uma

mulher, instituiu o casamento e

ordenou que crescessem e se

multiplicassem. Por isso, a

humanidade foi crescendo aos poucos e

aos poucos criando as condições

necessárias à sua sobrevivência.

Portanto, não tem amparo bíblico a

tese da existência de uma comunidade

antes de Adão. A Bíblia é bem clara

quando diz que o primeiro homem foi

Adão (1 Co 15.45; cf 1 Tm 2.13).

Autor: Pr. Airton Evangelista da

Costa

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